Faz tempo que não escrevo e tenho vários assuntos ainda pendentes, como o relato de nossa ida a Paquetá, a Ilha Grande, mas hoje, foi uma remada bem peculiar e sinto a necessidade de relatar o que vimos e sentimos no treino de hoje, sexta feira, dia 17 de setembro de 2010.
Marcos Klippel e eu chegamos à praia da Urca por volta das 06:00h para iniciarmos o treino.Já sabíamos que Lariana Orlandi não viria, pois telefonara avisando e que Antônio Magnago (ou Tonho Caranguejo) provavelmente faria o mesmo.
Preguiçosos e sonolentos aguardávamos a chegada de Pedro Sá para começar a aprontar os caiaques para sairmos. Em verdade vos digo, estávamos “torcendo” para que o Pedro faltasse e, não havendo a quem treinar, voltar para nossas casas e dormir mais um pouco. Não demorou muito para que o Pedro chegasse e com bom humor, cada qual engajado em sua função de aprontar os caiaques, rapidamente estávamos dentro d’agua.
Marquinhos e Pedro compunham a embarcação de nome Ratier enquanto que eu remava sozinho o caiaque de nome Cousteau e, por enquanto, seríamos apenas os três mas em breve seríamos cinco. Por volta das 06:30h iniciada a remada, já sentia a velha dor no ombro direito e com o vento forte (LNe), tive de suar para acompanhá-los. Como de costume, paramos um pouco antes do gargalo formado na saída da baía de Guanabara, a boca da Barra, um canal de apenas 1700m que divide o Rio de Janeiro de Niterói, e ainda sob o abrigo da baía, jogando conversa fora, demos boas risadas contemplando o dia que agora, embora com vento, revelava um sol bem forte.
Por escolha do Pedro, rumamos em direção a pedra do Anel, na costeira entre o Leme e a praia Vermelha. O vento e a maré ajudaram bastante nosso deslocamento e velozes seguíamos nosso caminho. Após a parada, já com o corpo aquecido, a dor desapareceu e o astral já estava nas alturas.
Cruzamos o morro Cara de Cão, Forte São José, Forte São João, praia de Fora, costão do Pão de Açucar, com direito a surfizinho nas ondas que “lambem” a costeira, praia Vermelha e por fim, pedra do Anel, num total de aproximadamente 1 hora contando com a parada.
Enquanto eu circunavegava a pedra do Anel, os dois permaneceram na enseada abrigada da diminuta ilha. A água estava transparente e num lindo tom de verde. Ao regressar, encontro os dois rindo e apontando para um bicho em cima da pedra.
Era um LOBO MARINHO!
O animal era pequeno, do tamanho de um cachorro, estava deitado sobre uma pedra e após nos observar por alguns poucos minutos, se apoiando sobre as quatro patas para andar, entrou na água. De repente, o bicho apareceu bem a nossa frente e ficou nos observando, fazendo manobras de um lado para o outro, sem se importar com nossa presença. Pelo contrário, entrou no mar só por curiosidade, para ver o que aqueles três sujeitos estavam fazendo no mar, dentro de duas esquisitas caixas amarelas e compridas.
Lobo marinho de dois pêlos, zôo de B. Aires.
Com orelhas visíveis, de pelagem negra e com pouco menos de um metro de comprimento, tinha a cintura articulada e ficava na superfície tranquilamente coçando a barriga com as patas traseiras. Arrisco dizer que era um lobo de dois pêlos- aprendi num show para crianças no zôo de Buenos Aires. A visão daquele ser pacífico, preto, de focinho pontudo a de bigodes enormes, nos fazia rir a todo o momento. O bichinho tem cara de boa-gente e parece um vira-latas .
Durante vários minutos, ficamos ali a pouquíssimos metros do lobo marinho e, quando ele mergulhava, acompanhávamos através das bolhas de ar seu trajeto e tentávamos adivinhar aonde apareceria novamente, mas sempre voltava à tona bem próximo a nós. Interagir com um animal selvagem como este é uma experiência única.
Estávamos num lugar lindo em que as paredes do costão do leme formam um teatro envolvendo a pedra do anel que caprichosamente se aninha no mar.
Estávamos na água com leão marinho, o verde do mar e da mata atlântica, quando mansamente aparece uma linda tartaruga completando a cena. Assim, ficamos ali, em perfeita harmonia, os cinco: o lobo marinho, a tartaruga, Marquinhos, Pedro e eu. Até que Marquinhos, com seu humor negro, solta uma de suas frases de “incentivo”.
-É..., tudo perfeito..., a tartaruga..., o leão marinho..., só falta o tubarão branco!
A risada foi geral e, após ficarmos mais um pouco, tendo de partir, nos despedimos de nossos amigos marinhos e remamos de volta à nossa base na praia da Urca com um enorme sorriso no rosto e a sensação de ter vivido uma experiência ímpar em plena cidade do Rio de Janeiro.
Que manhã incrível!
No mar, nunca um dia é igual ao outro.
Bruno Fitaroni.